Um projecto país, nunca como agora, se impõe, como necessidade primária para a materialização do verdadeiro sonho de mulheres e homens habitantes deste torrão, carentes de uma independência imaterial. A independência material entregue pela potência colonial, em 1975, a uma só identidade ideológica (excluindo as demais e cidadania), “ab initio” adversa ao pluralismo e a democracia participativa, causadora, justa ou injustamente, de todos os conflitos.
Por William Tonet
Hoje, a descrença é tão grande no modelo de governação de Estado, liderado pelo MPLA, que os cidadãos clamam por uma nova aurora, de forma democrática, no pleito eleitoral de 2022, caso não haja batota e fraude.
Uma maioria de cidadãos da sociedade civil e os grandes partidos da oposição, recusam-se em participar nas próximas eleições gerais, no actual modelo. E, neste contexto, vingando a posição, muita coisa mudará no actual xadrez político-partidário-eleitoral, podendo contribuir para a tão almejada alternância de poder, pela primeira vez, através da via democrática, pese o MPLA, ao que parece, não estar preparado, para o óbvio, logo induzir o seu líder a musculatura de amarfanhamento e subversão da Constituição e lei eleitoral.
Assim, se as eleições presidenciais fossem nominais (directas), a mais recente sondagem da Mundovídeo, Lda/Folha 8, revela que a corrida decisiva de 2022, teria três candidatos de força, na disputa do cadeirão maior do Estado: João Lourenço, apoiado pelo MPLA, Adalberto da Costa Júnior, pela UNITA e Abel Epalanga Chivukuvuku, com suporte de cidadãos independentes da sociedade civil.
Com foco em zonas suburbanas e nos principais mercados populares de Luanda, Uíge e Huambo, o inquérito atingiu um universo de 2000 (dois mil) cidadãos-eleitores, vítimas do desemprego, fome, miséria e inflação, mostraram a preferência nos mais populares líderes políticos do momento.
Adalberto da Costa Júnior, 40%, Abel Epalanga Chivukuvuku, 34%, João Lourenço, 26%, atingem este score na 1.ª volta, obrigando a uma segunda, mas já relegando, o candidato do MPLA (JLO), que por ficar num modesto terceiro lugar, não seguiria em frente, pese ter toda máquina do Estado, incluindo órgãos de comunicação social pública, parte da Segurança de Estado, Forças Armadas e Polícia Nacional.
A CNE, capitã da máquina da batota, não conseguiria travar o ímpeto do voto popular, indisponível para um novo beneficio da dúvida ao candidato do partido da situação, muito fundamentalmente, pela presença massiva de observadores da União Europeia, Fundação Carter e o Departamento de Estado Americano.
De acordo com a sondagem o candidato apoiado pelo Galo Negro, partido fundado por Jonas Savimbi, começa a distanciar-se de João Lourenço, principalmente, nos últimos quatro meses, após as musculadas posições do bureau político, os ataques das televisões e a quebra do nível de vida e desemprego das populações, tendo chegado a atingir, entre Maio e Junho, 53,8% das intenções de voto, baixando João Lourenço para uns modestos 38%.
Na sondagem anterior, João Lourenço encontrava-se a frente com 39% das intenções de voto popular, enquanto Adalberto da Costa Júnior seguia com apenas 25%, seguindo-se Abel Chivukuvuku, com 23%, muito longe, quase perdidos no horizonte, seguem-se, os presidentes da CASA CE, Manuel Fernandes, com 6%, Lucas Ngonda, com 4%, Benedito Daniel da FNLA, com 2%, e Quintino Moreira fechando o score, com 1%.
Agora, não havendo, no sistema constitucional (CRA de Fevereiro de 2010) e eleitoral, em vigor, eleição nominal do Presidente da República, as duas principais bandeiras: MPLA e UNITA levam os seus argumentos, programas, realizações e fracassos, até às últimas consequências.
Obviamente, o partido da situação: MPLA, ao mesmo tempo que percebe estar a baixar nas sondagens, acirra ódios, matreirices e jogadas baixas, usando o sector judicial, nomeadamente, o Tribunal Constitucional, para tirar o seu adversário da corrida e, nessa engenharia não se coíbe de corromper militantes infiltrados, sem capacidade eleitoral, para intentar processos, já prescritos no decurso do tempo legal, mas ressuscitados na lógica da partidocracia vigente. É, talvez por este cenário abjecto em que a política e país estão atolados, desde 1975, que o cidadão esteja a decidir pela inversão do actual contexto governativo, afastando o actual Presidente da República.
Em Julho, apenas 31% considerava o governo “péssimo”. Agora, quase metade (48%) dos angolanos acredita que o actual Governo não é digno de continuar no poder, pela crónica inércia, má gestão do erário público, corrupção, perseguição a liberdade de imprensa, encerramento a órgãos de comunicação social independentes, aumento do desemprego de jornalistas e de outros milhões de trabalhadores.
No tocante ao desempenho do combate à pandemia do COVID-19, a avaliação dos entrevistados, é muito determinada pela manutenção da cerca sanitária em Luanda, considerada uma aberração e falta de visão do Executivo.
Em Maio, 18% consideravam o combate da COVID entre “mau e razoável”, percentagem que atingiu, no final de Julho, 21%, enquanto cresce o número de cépticos 61%, que consideram estar a ser “péssima e irresponsável”, face ao descaso do Titular do Poder Executivo, em relação a malária, que mata mais, cerca de 200 crianças dias, sob o olhar cúmplice da ministra da Saúde.
No combate aos crimes de corrupção, enquanto em Maio 58% consideravam como “irrelevante” o desempenho de João Lourenço, pela falta de benefícios na vida do cidadão, em Julho 65% dos inquiridos, criticam a “incapacidade e falta de visão programática” do Presidente da República, na condução de tamanha empreitada, que deveria envolver todos os partidos e não “penalizar o emprego de trabalhadores, por estar João Lourenço numa birra pessoal, contra José Eduardo dos Santos e outros seus camaradas de partido, que estão a prejudicar os cidadãos, os órgãos do Estado e todo tecido económico e social do país”.
Facto significativo, nesta sondagem é o das minorias, como nunca antes, apostarem, desta vez, no líder da UNITA, face a campanha xenófoba, abjecta e de racismo incubado que o MPLA tem estado a mover contra ACJ, não tanto por ser militante dos “maninhos”, mas pela cor da sua pele, tendo mesmo sido considerado, nessa campanha pífia de ser 50% angolano.
Outro segmento deveras importante e que tem cerca de 4 milhões de fiéis é a Igreja Católica, que parece maioritariamente inclinada a votar na oposição, tal como a Igreja Universal e outras evangélicas comprometidas com a melhoria de vida dos cidadãos.
Mas a grande novidade, nesta sondagem foi o número significativo de militantes do MPLA que disseram estar contra o actual líder e não podendo dividir votos, não terão outra alternativa, senão a de votar na oposição, representada pela UNITA.
De acordo com a sondagem Mundovídeo/F8, a margem de erro máxima desta sondagem é de 3,2 pontos percentuais.